Deficiente visual encontra na música motivos para se superar

Deficiente visual encontra na música motivos para se superar
Larissa Mariana
Reportagem Especial
01/07/2017


As vezes na vida, encontramos situações diversas que nos fazem parar e refletir sobre tudo que nos acontece, sobre as coisas que vivenciamos e muitas das vezes sobre o que reclamamos por ter ou não ter.
A Reportagem Especial desta edição, trás um pouco disso em forma de superação, contando um pouco mais sobre a historia de uma pessoa que apesar de muito jovem, já possue uma grande bagagem para relatar.

Laura Lindsey ficou deficiente visual aos 3 anos de idade por conta de um problema de saúde.
A partir daí, tudo foi novidade e sua família precisou se adaptar a sua nova condição de vida.
O pai sempre foi mais afastado, nunca deu a filha o carinho que ela merecia e esperava, enquanto a mãe pensava que a melhor alternativa fosse a superproteger em razão de sua deficiência.
Quando tinha 6 anos de idade, Laura viu os pais se separarem, ele se mudou e nunca mais apareceu para ver a filha esquecendo dela por completo, um trauma que até
hoje ela vive, e que se emociona muito ao se relembrar.

Cerca de 4 anos mais tarde, agora com 10 anos de idade, Laura viu sua mãe iniciar um novo relacionamento e elas se mudaram de cidade por causa do trabalho deste novo namorado da mãe.
Foram morar com ele no interior de São Paulo, onde permaneceram por muitos anos.
Aos poucos, Laura tentava crescer e aprender as coisas, com um pequeno apoio da mãe, foi desenvolvendo-se na escola e foi cada dia mais se apaixonando pela música, sonhando um dia quem sabe poder tocar algo.
Depois de muita conversa com a mãe, a convenceu inscrever em um projeto musical do governo do estado, onde ela poderia aprender de graça a tocar instrumentos.
Laura escolheu o violino e iniciou suas aulas.
Em pouco tempo a deficiente visual se destacava entre os alunos, seja por sua dedicação, seja por sua facilidade em tirar as músicas de ouvido para tocar.
Seus professores diziam que Laura tinha um talento nato, um dom para a música e que ela poderia ir bem longe.
A menina acreditou nisso, apesar de ser deficiente visual, não se dedicou a outra coisa que não a música.
O tempo foi passando, ela foi crescendo, logo veio a mocidade. Com algum sacrifício Laura conseguiu ganhar um violino, mas ele não era novo.
Entretanto, foi o que conseguiu para aquele momento de sua vida e era o que bastava para se dedicar ao que tanto amava em casa.
Aos 14 anos de idade, a Laura ganhou um irmão, fruto do relacionamento da mãe com o namorado, mas este sem qualquer problema de saúde ou de visão.
Aos 15, ela perdeu a mãe por conta de um câncer violento no qual nada pôde ser feito para salva-la.
Nos meses seguintes a morte da mãe, Laura ficou ainda na casa do padrasto com ele e com o irmão.
Mas sua vontade era em voltar para a cidade de Santos, no litoral paulista, onde ela nasceu e viveu. Queria morar com a avó materna, única parente viva que ela tinha.
O padrasto por sua vez, dizia que levaria a menina mas os meses foram passando e isso nunca aconteceu, à avó, ele sempre dizia que Laura não queria ir embora que preferia ficar com o irmão para ajuda-lo.
Na realidade era tudo um pretexto, o que ele queria era manter a menina por perto.
Desde a primeira semana da morte da mãe, o padrasto de Laura começou a se aproximar cada dia mais dela, elogios, carícias indiscretas até chegar ao abuso sexual propriamente dito.
Depois que começou, não mais parou e era por esta razão que queria a manter por perto, relembra ela, chorando.

Laura parou de ir a escola, porque o padrasto não a queria na rua, o motivo, medo que ela relatasse as pessoas o que vivia dentro de casa.
Mas uma amiga foi a visitar e percebeu que ela estava diferente, Laura a contou o que aconteceu e a menina denunciou o caso na diretoria da escola.
O Conselho Tutelar esteve na casa, fez vistorias mas o padrasto sempre negou os abusos.
Para evitar quaisquer novas denúncias, o Conselho encaminhou Laura para Santos, para que vivesse com a avó e então os abusos pararam, mas seu autor nunca foi devidamente punido.

Laura chegou em Santos, foi morar com a avó em uma casa simples e modesta, e juntas ficaram por 2 anos.
Poucos dias depois da menina ter completado 17 anos de idade, a avó de Laura adoeceu e faleceu, deixando a menina sozinha uma vez mais.
Em cada um desses difíceis momentos, Laura tinha um companheiro inseparável, seu violino. Que esteve com ela nos bons e ruins momentos de sua vida, onde ela sempre encontrou força e superação.
Laura passou a pagar o aluguel da casa da avó, ao iniciar recebimento de um auxílio de um salário mínimo do governo federal.
Teve dificuldades em conseguir trabalho, por causa de ser invisual. Sentiu na pele o preconceito pelo fato de não enxergar.
Hoje, com 20 anos de idade, tenta sobreviver como pode, paga R$ 650,00 de aluguel na casa em que ainda mora, mais as despesas de água e energia, que juntas totalizam R$ 810,00 de seu orçamento.
Restam apenas R$ 127,00 para que a menina sobreviva, coma e custeie sua vida. O valor, mesmo para ela sozinha é insuficiente.
E como não conseguiu um emprego, Laura teve que ir a luta para sobreviver, fazendo o que mais gosta de fazer.

Um conhecido da família é dono de um barzinho e concordou em deixar Laura se apresentar no local, as sextas-feiras, ela toca violino para os clientes.
No começo não ganhava nada pela apresentação mas depois de algum tempo, o dono do bar acabou decidindo ajudar a moça. Passou a pagar a ela R$ 50,00 por cada apresentação que ela faz, e além das sextas, também a pediu que tocasse aos sábados.
Por causa desta renda extra, Laura conseguia R$ 400,00 mensais que ajudavam nas suas despesas.
Com esse dinheiro, ela inteirava a comida, paga sua internet e até conseguiu comprar parcelados um computador e um celular, se colocando na era digital.

A partir daí, sua historia cruza com o Grupo Kester e nos trás onde hoje chegamos.
Conhecendo o site, os livros de seu fundador, Jornalista Guilherme Kalel, Laura decidiu tentar fazer algo.
Escolheu uma música da trilha do livro Encantos, para aprender a tocar no violino e para colocar em seu repertório nas suas apresentações.
Foi até um estúdio na cidade, onde conseguiu gravar a música para que pudesse toca-la depois.
Queria enviar a música para a equipe Kester, para mostrar um pouco de seu trabalho.
Mas de fato as coisas e a sua vida mudaram, ao sair do estúdio, Laura foi assaltada.
Os criminosos levaram a única coisa que ela carregava consigo de valor, seu violino.
A garota entrou em choque e também não era para menos, perdeu não apenas um companheiro de diversos momentos mas também seu instrumento de trabalho.
Laura está há 3 semanas sem poder se apresentar, isto quer dizer que não recebe pelas apresentações e em casa as contas vão acumulando.
Não há por parte dela, condições de como reverter esta situação porque um violino é caro, e ainda que seja usado, neste momento ela não possue condições de comprar.

Foi Wanessa, uma amiga de Laura, que as vezes a ajuda com algumas tarefas do dia dia, desde que ela chegou na cidade para morar com a avó, que teve a ideia de escrever para a Reportagem Kester 10 G, para contar sobre a historia da moça.
A equipe entrou em contato com Laura, e chegou a esta publicação depois que ela aceitou dar uma entrevista contando um pouco sobre a sua vida.
A jovem deficiente visual, tem muitas razões para acreditar que um dia toda esta fase ruim vai passar, e ainda tem esperanças de regressar as apresentações de
violino, não apenas para sobreviver, mas porque é o que ama fazer, é a sua terapia diante as injustiças da vida.